Desabafo de uma mãe: "a alegria se apagou"

Lagarta Pintada Reply 14:15

Na semana passada, eu li uma matéria de jornal que me sensibilizou muito. Era uma reportagem que falava da tristeza de uma mãe, logo após receber a notícia da morte precoce do filho, de 15 anos. A situação em si não é novidade, mas o caso virou notícia porque o menino em questão, em 2008, tinha virado garoto-propaganda de um programa de governo (PAC - Programa de Aceleração do Crescimento) em Manguinhos, zona norte do Rio. No início do mês passado, o garoto, aos 15 anos, morreu com suspeita de overdose.


Foi o desfecho da história do menino que ganhou notoriedade ao conhecer de perto Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente da República, na entrega do conjunto habitacional no local. 

Não, eu não quero falar de política. Apesar de parecer que não existe no momento outro assunto na imprensa brasileira, o que me emocionou foi a forma como a mãe do menino descreve o seu sacrifício para dar uma vida melhor ao filho - e como ela se desespera ao perceber que não conseguiu. 

Fiquei pensando o quanto todas as mães temos em comum, e como podemos aprender com a dor e a história de cada uma, mesmo que pareça distante da nossa. 




A mãe do menino, Bianca Pereira, conta a história do nascimento do filho: "Tinha 20 anos quando ele nasceu. Depois tive duas meninas. Três filhos em quatro anos. E, então, meu marido me abandonou. Comecei a trabalhar aos 16 anos como costureira, mas, como não tinha formação, fui fazer faxina para sustentar as crianças. Ganho R$833 por mês, acordo às quatro e meia da manhã e pego dois ônibus para ir trabalhar. Seis da manhã já estou fazendo faxina."

Como em tantas outras famílias brasileiras, uma mãe que se esforçava para garantir o sustento dos filhos. Uma vida de sacrifícios. Quantas de nós não fazem exatamente a mesma coisa? 

"Meu filho sempre usou roupa de marca. E eu fazia questão de comprar tudo para que ele não se misturasse com traficantes. Sei que vida fácil é o tráfico, mas sempre aconselhei meu filho a não ir para esse lado."

"Talvez, se eu tivesse um emprego melhor, poderia ter dado mais coisas para ele. Durante o PAC, quis trabalhar nas obras, pedia emprego para as assistentes do governo. Nunca consegui."

"A gente se encontrava pouco. Quando Christiano me procurava para falar algo, era para pedir dinheiro. Principalmente roupa."

E o círculo perverso se estabelece: a mãe ou pai que quase se mata de trabalhar para sustentar os filhos, mas no final não tem tempo nem condições de estar presente na criação deles. Começa a substituir a presença pela roupa, pelo celular ou outro bem material qualquer.

Não queiramos nos iludir e pensar que isso acontece somente com famílias menos favorecidas. Acredito que seja uma epidemia que se alastrou por lugares, classes sociais e religiões diferentes. Coisas no lugar de sentimentos, de orientação, de presença.

"O governo gostou de usar a foto como propaganda. Falaram: símbolo do PAC. Deram óculos de natação para meu filho, sunga e o deixaram mergulhar na piscina no dia da inauguração, quando o Lula veio. (...) Sabe quando ele mergulhou de novo? Nunca. Construíram um muro em volta da piscina, que acabou fechada para os moradores. Nunca houve aula de natação para as crianças, como tinha sido prometido."

Uma mãe que lutava contra as adversidades para dar todo o melhor que podia a seu filho -- mas não conseguiu transmitir para ele a necessidade de superação, de batalha contra as dificuldades da vida, de persistência e de superação. 
   
"Meu filho virou adolescente e ficou frustrado. Viu que nada daquilo que ele sonhava, ser nadador, famoso de novo, iria acontecer. Passava o tempo no computador e assistindo televisão. Tinha boca e não falava. A alegria de criança se apagou."

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